Márcia Hillebrand e Carolina Figueiredo
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em apenas 30 anos, o número de crianças e adolescentes que estão acima do peso subiu de 4% para 18% (meninos) e de 7,5% para 15,5% (meninas).
Hoje vivemos na contradição entre um excessivo culto ao corpo e uma grande quantidade de estímulos ao consumo de fast-food e alimentos industrializados. Além disso, a vida sedentária, o tempo gasto em frente à TV, a restrição de brincadeiras de rua e uma agenda lotada de compromissos também se instalaram no cotidiano, contribuindo para o aumento destes índices.
Do ponto de vista psicológico, quando uma pessoa come em excesso pode estar tendo dificuldade em identificar e suprir suas necessidades. Geralmente quem sofre com problemas de peso corporal interpreta inadequadamente suas necessidades e tem dificuldades para expressar seus sentimentos. Nutrir significa alimentar, alentar, revigorar e saciar, entretanto não precisamos apenas saciar nosso corpo, mas também nossas necessidades emocionais. Pode, por exemplo, estar confundindo tristeza com fome e raiva com desejo de comer chocolate, ou seja, canalizando suas emoções para o ato de comer. Esta passagem de uma das magníficas crônicas de Martha Medeiros clarifica muito bem esse processo:“Outro dia, no meio da tarde, senti uma fome me revirando por dentro. Uma fome que me deixou melancólica. Me dei conta de que estava indo pouco ao cinema, conversando pouco com as pessoas, e senti uma abstinência de viajar que me deixou até meio tonta. Minha geladeira, afortunadamente, está cheia, e ando até um pouco acima do meu peso ideal, mas me senti desnutrida. Você já se sentiu assim também, precisando se alimentar? Arroz, feijão, bife, ovo. Isso nós temos no prato, é a fonte de energia que nos faz levantar de manhã e sair para trabalhar. Nossa meta primeira é a sobrevivência do corpo. Mas como anda a dieta da alma?” (Martha Medeiros)
Por outro lado, quando a obesidade já existe, é preciso lidar com as conseqüências físicas e emocionais que ela acarreta. Psicologicamente altera a auto-estima, provoca ansiedade, vergonha e depressão, que por sua vez, poderão acarretar dificuldades de relacionamento social e familiar, contribuindo para o estabelecimento de um ciclo vicioso envolvendo maior ansiedade e compulsão alimentar.
Incluir um trabalho psicoterapêutico, junto a um acompanhamento clínico e nutricional facilita o processo de busca pela saúde. Tanto no atendimento individual, como em grupo, a psicoterapia ajuda a desenvolver a capacidade de percepção e expressão dos sentimentos, fazendo com que a pessoa tenha uma relação mais adequada com o alimento e com o próprio corpo, desencadeando um novo processo, em direção ao desenvolvimento da auto-estima, saúde e bem estar.